Quarta, 20 Agosto, 2025 - 22:11

“Os incêndios não podem servir de desculpa para destruir o setor cinegético”

Antes de mais, não posso deixar de expressar a minha solidariedade para com todas as pessoas afetadas pelos incêndios que, uma vez mais, assolam o nosso país. Um pensamento especial deve ser dirigido às famílias que perderam bens e tranquilidade, e em particular à família do bombeiro que recentemente perdeu a vida. O seu sacrifício merece respeito e memória.

Mas este momento de dor e preocupação não deve servir de desculpa para políticas injustas e decisões cegas. Infelizmente o Governo e o ICNF voltaram a recorrer à medida mais fácil: proibir a caça em todo o território nacional sempre que é decretado um estado de alerta por incêndios.

Um castigo sistemático e injustificado

Portugal é um país que arde todos os anos. Esta realidade não é nova, e todos sabemos que os alertas continuarão a ser transmitidos no futuro. O que também se tem repetido, quase como uma sina, é a penalização automática dos caçadores. Mesmo quando os incêndios estão circunscritos a áreas limitadas, mas cerca de 97% do território nacional, onde não há fogos ativos, é arrastado para a mesma interdição absurda.

Os caçadores, que passaram o ano inteiro a investir na recuperação e habitats, sementeiras, aceiros, alimentação e água suplementares para a melhoria das espécies, veem de repente as suas expectativas destruídas. Licenças pagas, trabalhos de gestão cinegética realizados, caçadas organizadas e vendidas, reservas de hotéis e restaurantes confirmados- tudo se perde de um momento para outro por causa de uma decisão administrativa generalista e sem critério.

A caça não provoca incêndios: pelo contrário

É fundamental deixar claro que a caça não é uma atividade causadora de incêndios. Pelo contrário, os caçadores são, muitas das vezes, os primeiros vigilantes voluntários da floresta, defendendo os territórios onde investem tempo, dinheiro e esforço. Ignorar esta realidade é não só injusto, como perigoso, porque afastada das áreas rurais quem mais contribui para a sua vigilância ativa.

Legislar sem ouvir, governar sem respeitar

A proibição sistemática da caça sempre que há estado de alerta é mais do que um erro: é um exemplo de legislação autista, feita sem ouvir os representantes do setor cinegético, sem ponderar os impactos reais no terreno e sem respeitar todos os atores que vivem e cuidam do mundo rural.

O ICNF e o Governo insistem numa postura de isolamento e arrogância, tratando os caçadores como um problema, quando deveriam trata-los como aliados. Esta postura já não surpreende: tal como os incêndios regressam todos os verões, regressa também a cegueira legislativa que nos atinge.

O que está em causa

O que está verdadeiramente em causa não é apenas um conjunto de jornadas de caça frustradas. É uma questão e respeito, de justiça e de visão estratégica. A caça, em Portugal, é uma atividade que gera economia local, que fomenta conservação que mantém pessoas no território. Ao deitar tudo isto por terra com uma decisão administrativa simplista, o Governo mostra mais uma vez que não entende o país real, o país que existe para além dos gabinetes.

Merecemos respeito

Esta postura tem de terminar. Os caçadores merecem respeito. Não aceitamos continuar a ser tratados como culpados de um problema que não criamos. Os incêndios florestais são drama nacional que precisa de prevenção, planeamento e gestão séria. E essa prevenção deve começar pelos terrenos do próprio Estado. Mas usar os caçadores como bode expiatório, meter tudo no mesmo saco, ano após ano, é uma injustiça que já não podemos tolerar.

É tempo de o Governo e o ICNF reconhecerem que a caça não é um risco, mas sim parte da solução. E é tempo de as grandes decisões deixarem de ser cegas, automáticas e alheias à realidade do território.

Chega de desprezo pelo mundo rural. Chega de medidas autistas. Chega de desrespeito pelos caçadores.

Jacinto Amaro

20/8/2025

Acesso Restrito

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